sexta-feira, 26 de junho de 2009

Não tirem Will Eisner das escolas!


Acredito que para o desenvolvimento da educação em artes, a arte sequencial de Will Eisner é necessária nas escolas não só do Brasil mas de todo o mundo. Estou me sentindo agredido, como artista e arte-educador com a forma que boa parte da imprensa, políticos, e até mesmo educadores, estão abordando o trabalho dele na busca de tirar suas obras das escolas. Eisner deve permanecer nas escolas.

Penso desta forma, e defendo até a morte meu ponto de vista, porque foi ele quem sistematizou, nomeou e apresentou de forma pedagógica e artística a linguagem das histórias em quadrinhos, não se limitando apenas à sua produção. Termos como "arte sequencial" e "novela gráfica" foram criados por ele para ajudar as pessoas à perceberem que na linguagem dos quadrinhos não é limitada apenas às crianças mas aos adultos também e que possuem seu valor artístico e pedagógico. Se for de seu interesse conhecer mais sobre esta linguagem, procure ler qualquer uma de suas obras pois elas são uma verdadeira aula sobre arte sequencial. Três de suas obras foram selecionadas e encaminhadas para as bibliotecas das escolas, são elas: "Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço","O Sonhador", e "O Nome do Jogo". Estas três obras estão sofrendo boicote nas escolas.

As obras Malditas!

Boa parte desta situação incômoda surgiu com o incidente com o quadrinho Dez na área onde foram enviados livros que são, segundo o político José Serra: "De muito mau gosto" para escolas de ensino fundamental. Reproduzo esta fala de "mau gosto" porque acho importante as pessoas perceberem o que pode acontecer quando se julga algo sem conhecer e toda esta história aconteceu por conta disto. Alguém julgou que Dez na área era pra crianças e encaminhou para um público infantil, alguém julgou que eram uma má influência para as crianças, alguém julgou necessário fazer uma campanha anti quadrinhos e anti autores forçando todo tipo de argumento sem fundamento possível, alguém julgou nescessário dar credibilidade a estes argumentos, chamando autoridades para falar á respeito, alguém das autoridades achou de mau gosto sem conhecer a obra, e depois alguém achou melhor pedir uma pizza depois disso porque o estrago já havia sido realizado. Mas o pior foi que alguém achou nescessário dar continuidade a esta história...

A mídia passou a tratar inicialmente os quadrinhos culpando a obra e os artistas que a idealizaram como uma má influência para jovens e crianças.

Depois de perceber o quanto estavam enganados sobre o assunto, depois da manifestação pública de repúdio de diversos artistas com argumentos sólidos e fundamentados, disseram que a obra em si não era culpada de nada e mudaram seu argumento, criando um novo: "esta obra é inadequada para jovens e crianças". Políticos, educadores e pessoas que se influenciam pelo que dizem na TV entraram no coro.

Felizmente há uma parcela de notícias sobre quadrinhos ganhando destaque de forma positiva quando se trata de educação, e cada vez mais quadrinhos estão sendo utilizados em salas de aula. E não importa o quanto noticiem o contrário a realidade nos dias de hoje é outra. Cada vez mais as pessoas estão se tornando esclarecidas sobre este assunto e não se deixam levar facilmente ao que dizem e os quadrinhos estão tendo seu reconhecimento merecido no Brasil. O prêmio Jabuti para o alienista é prova disso. Seria muito bom que algums governantes, jornalistas e políticos demonstrassem este mesmo esclarecimento.

Quanto à adequação dos livros, Eisner é adequadíssimo ao Ensino médio e as histórias presentes nestas três obras, apresentam uma carga dramática humana muito forte e real mostrada através da narrativa gráfica de Eisner que se baseou em suas experiências pessoais. Como toda obra de arte, estes livros são uma representação da realidade através dos olhos do artista. E não só as histórias! A linguagem que é utilizada por Eisner, como falei anteriormente são uma aula de narrativa.

O próprio MEC defende Eisner nas escolas, porque suas obras, são sim educativas e reafirmam a importância de Eisner como artista e educador respeitado de forma mundial.

Ver e ler são conceitos bem diferentes. Eisner deve ser lido em sua totalidade para ser bem compreendido e não apenas visto.

Os alunos devem ter acesso a este material para sua formação artística como seres humanos letreirados, apreciadores da arte e desenvolvedores de senso crítico. Não podem ser prejudicados por pré-julgamentos sem fundamento elaborado por pessoas que viram a obra mas não se deram o trabalho de ler.

Eisner tem uma importância tão grandes na arte dos quadrinhos que estou com dificuldades de descrever com palavras tudo o que ele fez. E se fosse descrever realmente tudo, este texto ficaria quilométrico e as pessoas que deveriam ler nem vão se dar ao trabalho de continuar acompanhando o texto.

Façam a lição de casa, leiam Eisner!

Tirar Eisner das escolas é mostrar literalmente, e não graficamente, de forma bastante significativa a ignorância, incopetência, preconceito e a falta de interesse de ensinar sobre a linguagem artística dos quadrinhos. Reafirmo o que disse antes Eisner deve estar em todas as escolas! e espero que as escolas brasileiras adotem novos livros de Eisner como a Arte Sequencial e Narrativas Gráficas.

Se um dia eu presenciar uma campanha conjunta da imprensa com políticos e "educadores" para tirar Shakespeare, Nelson Rodrigues, ou Sófocles das escolas procederei da mesma forma. Mas esta possibilidade acho mais difícil afinal, não tem ilustrações para olhar e prejulgar seus livros e além do mais se não se deram ao trabalho de ler Eisner porque se dariam ao trabalho de ler outros autores de obras literárias? Não dá pra ficar calado e aceitar este retrocesso na educação brasileira.

Em tempo, assinei a carta aberta às autores brasileiras de educação à convite dos doutores Paulo Ramos, Elydio dos Santos Neto, Gazy Andraus, Roberto Elísio dos Santos e Waldomiro Vergueiro. Deve ter cerca de 200 assinaturas por lá mas espero que tenha muito mais do que mil.

O link do blog dos quadrinhos do jornalista e educador Paulo Ramos é este: http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/arch2009-06-01_2009-06-30.html.

A arte sequencial e a educação no Brasil contam com a colaboração de vocês.

Namastê!

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