domingo, 20 de junho de 2010

Triste Romance


Recebi a triste notícia que a romanceira, Dona Militana Salustino do Nascimento, faleceu na tarde deste sábado aos 85 anos. Com a morte de Dona Militana uma parte importante da memória dos romances de tradição oral não será mais contada/cantada por uma voz anazalada e intensa. Ano passado, estive presente na apresentação de O Romanceiro, uma grande homenagem ao trabalho de Dona Militana, se não me falha a memória ela esteve presente para prestigiar a apresentação em vida. A memória... Eu já afirmei em um quadrinho que quando uma música não é mais cantada, e a pessoa que sabe morre sem repassar para alguém, tudo morre junto com ela. Infelizmente é assim que está sendo com a cultura popular. Cada vez mais ela está deixando de ser popular para se tornar elitizada para a apreciação de uma minoria privilegiada. Enquanto o que não acrescenta em muita coisa na cultura brasileira é empurrado, goela abaixo, em grande escala para a população, sendo vendida a idéia de que é uma coisa maravilhosa. Acredito que a melhor maneira de manter vivo o romance é cantar/contar. E isto está ficando cada vez mais difícil no momento... Deixo aqui as letras de dois romances de Dona Miitana para compartilhar com os leitores deste infame blog (se vocês conhecem mais algum compartilhem comigo e outras pessoas). Espero que alguém leia e conte/cante estes romances para outras pessoas e não esqueçam o quanto esta romanceira tem importância para a cultura Brasileira/Nordestina/Potiguar:

Dona Branca

Estava Dona Branca
Em mesa servindo ao seu pai

A sua saia levantada
E sua barriga empinada (bis)

Que é que tendes Dona Branca
Que eu te vejo desmaiada

Foi um copo d'água fria
Que eu bebi de madrugada (bis)

Manda chamar os doutor
Pra curar a enfermidade

Os doutor lhe responderam
Dona Branca está pejada (bis)

Me amarrem esta cachorra
Amarrem bem amarrada

Filha quer farsar seu pai
Só merece ser queimada (bis)

Botaram em uma torre
Com maior em demasia

O mais baixo que ela tinha
Palmo de terra não via (bis)

Tivesse meu mensageiro
Que mandasse o meus mandado

Eu mandava uma carta
A Dão Carlo de Montevar (bis)

Desceu um anjo do céu
Que de Deus veio a mandado

Fazei a carta Senhora
Que eu irei levar

Viagem de 15 dias
Eu a faço em um jantar

Se ele estiver dormindo
Deixarás ele acordar

Se ele tiver no passeio
Deixarás ele chegar

Se ele estiver jantando
Deixarás ele acabar

Abre-te portas e cortina
Varandas de par a par

Quero entregar uma carta
A Dão Carlo de Montevar (bis)

Dão Carlo pegou a carta
Pegou a ler e a chorar

Dava pinote na sala
Como um gatrilhão do mar (bis)

A c'roa mandou abrir
A barba mandou raspar

Oitocentos cavaleiros
Pra Dão Carlo acompanhar (bis)

Tenho mão minha justiça
Minha justiça rial

Essa infante que ai vai
Eu quero sentenciar (bis)

Lá em certos mandamentos
Um beijinho lhe quis dar

Boca que Dão Carlo beija
Não é pra frade beijar (bis)

Lá em outros mandamentos
Um abraço lhe quis dar

Corpo que Dão Carlo abraça
Não é pra padre abraçar (bis)

Cale a boca bela infante
Que usar este calar

Que eu sou o mesmo Dão Carlo
Que da morte eu vem livrar (bis)

Conde de Amarante

Que é que tendes minha filha- Dão, darão, darão
Que eu te ouço a soluçar- Dão, darão, darão (bis)
É de vê tudo cansada- Dão, darão, darão

Bota a cabeça na varanda- Dão, darão, darão
Escolheres o que quiseres- Dão, darão (bis)
O que eu quero é casado- Dão, darão, darão
É casado e tem família- Dão, darão, darão (bis)

Ô criado, ô criado- Dão, darão, darão
Eu quero o conde aqui- Dão, darão, darão (bis)
Quero que mate a condessa- Dão, darão, darão
Pra casar com minha filha- Dão, darão, darão (bis)

Quero que me traga a cabeça- Dão, darão, darão
Nesta dourada bacia- Dão, darão, darão (bis)

Que é que tendes meu marido- Dão, darão, darão
Que eu te ouço soluçar- Dão, darão, darão (bis)
É o rei senhor, senhora- Dão, darão, darão
Que quer qu'eu mate a condessa- Dão, darão, darão
Pra casar com sua filha- Dão, darão, darão (bis)

Bota a mesa a criada- Dão, darão, darão
Pra comer por despedida- Dão, darão, darão (bis)

Se sentaram-se na mesa- Dão, darão, darão
Nem um nem outro comia- Dão, darão, darão (bis)
Que as lágrimas eram tantas- Dão, darão, darão
Que pelos prato corria- Dão, darão, darão (bis)

Forra a cama criada- Dão, darão, darão
Pra dormir por despedida- Dão, darão, darão (bis)

Se sentaram-se na cama- Dão, darão, darão
Nem um nem outro dormia- Dão, darão, darão (bis)
Que as lágrimas eram tantas- Dão, darão, darão
Que pela cama corria...- Dão, darão, darão (bis)

Ô criada, ô criada- Dão, darão, darão
Me dá lá esse menino- Dão, darão, darão
Pra mamar por despedida- Dão, darão, darão

Mama mama meu filhinho- Dão, darão, darão
Esse leite de amargura- Dão, darão, darão (bis)
Que amanhã por esta hora- Dão, darão, darão
Estarei eu na sepultura- Dão, darão, darão (bis)

Sino na Sé tá tocando- Dão, darão, darão
Meu bom Deus quem morreria?- Dão, darão, darão
Pra me fazer companhia- Dão, darão, darão

Foi aquela bela infante- Dão, darão, darão
Quer descasar os bem casados- Dão, darão, darão
Coisa que Deus não queria- Dão, darão, darão (bis)

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