quarta-feira, 21 de agosto de 2013

FIQ 2013- Laerte



 O grande homenageado do FIQ deste ano é o mestre Laerte! E com toda certeza do mundo esta é a maior das motivações de eu estar presente novamente no FIQ. Laerte, Angeli e Glauco são as minhas maiores referências em se tratando de quadrinhos durante a minha infância. Sempre que saía da escola, comprava uma revista com o trabalho destes 3 quadrinistas que ficavam expostas na calçada. Eu não curtia muito turma da Mônica na época (hoje leio bem mais) e fui apresentado ao mundo dos quadrinhos com o gênero Super-herói através de Crise nas Infinitas Terras de Marv Wolfman e George Pérez. Mas foi realmente Los Três Amigos que me fizeram se interessar em fazer quadrinhos. Me identifico com os três quadrinhistas cada um de uma forma. Laerte Coutinho é um grande mestre da narrativa gráfica. Ele sabe conciliar, de maneira artísticamente sensível, desenho e roteiro. Tinham várias citações de quadrinhos de super-herói em seus trabalhos dentre outras coisas. Me lembro de uma história em que um cara está andando pela rua e cai uma máquina de escrever na cabeça dele, daí ele ganha visão de raios-x e se depara com uma banca de revistas onde estão várias raspadinhas e ele vê que uma está premiada. Ele estava liso, leso e louco e pede para um transeunte pagar para ele, o transeunte concorda e diz que vai comprar duas e ficar com uma. Só que pouco depois cai outra máquina de escrever na cabeça e ele volta ao normal, esquecendo qual das duas raspadinhas está premiada.  Não me lembro mais em qual revista foi esta história que lembrei do Laerte e nem tenho mais boa parte das revistas que tinha na época. Posso afirmar que hoje eu não seria o quadrinhista que sou se não tivesse conhecido o trabalho destes 3 durante minha infância. Eles são meus mestres! Os amigos que sempre tive ao meu lado mas nunca conheci! Minhas boas influências!  São meus heróis! São os quadrinhistas que representam tudo o que tem de legal no quadrinho nacional!

Pequeno Travesti- Mais um trabalho genial do Laerte no Blog Manual do Minotauro!

Laerte seguiu adiante com seu trabalho foda ao longo das décadas e nunca parou no tempo. Pra dizer a verdade, ele viajou no tempo e nos apresentou um novo futuro para os quadrinhistas das novas gerações (e das antigas também). Laerte se reinventou várias vezes nunca se acomodando e apresentando trabalhos geniais como o do roteirista (entre muitos outros) além de se apresentar com um novo gênero e promover iniciativas humanas em tempos desumanos. É tanta coisa legal que o Laerte fez e anda fazendo que não tenho palavras para descrever toda a sua importância. Ele é a musa inspiradora de muitos artistas e um grande exemplo a ser seguido tanto como artista como ser humano. E o convite que Afonso Andrade e o Daniel Werneck, curadores do FIQ 2013, fizeram ao Laerte expressam bem todo o carinho,amor e respeito que sentimos por ela(e).


Estimado Laerte,

Vimos, através deste humilde e-mail, apresentar os nossos mais sinceros pedidos de desculpas, perdão e clemência.

Conhecemos muito bem toda a sua trajetória artística, desde a época do Pasquim e da Istoé, passando pelas tiras do Condomínio na Folha de S. Paulo, as revistas Circo, Strip Tiras e Piratas do Tietê, do Overman na Cybercomix. Lemos todos os seus livros, e até mesmo acordamos cedo para assistir TV Colosso e ficar tentando adivinhar quais piadas eram as suas.

Lemos e assistimos a todas as entrevistas que você deu nos anos recentes, e sabemos quantas vezes você teve que repetir as mesmas velhas perguntas sobre como é ser travesti e de onde você tira ideias para fazer seus quadrinhos.

Fizemos, inúmeras vezes, parte do côro enfadonho e persistente que insiste em chamar lhe de gênio, maior quadrinista do Brasil, e devaneios do tipo.

Devido a todos esses fatos, após longas e extenuantes reuniões, discussões, debates, bate-bocas, argumentações e contestações, vimo-nos forçados pelo espectro da História, subjugados pelas mãos invisíveis do Destino, a nomeá-lo Quadrinista Homenageado do FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, em sua edição de Novembro de 2013.
Sabemos quanto desconforto e preocupação um título como esses pode provocar. É uma enorme responsabilidade ser nomeado O Quadrinista Mais Batuta Do Brasil por um festival tão garboso e tradicional como o FIQ.

Mas antes de continuarmos, gostaríamos de deixar bem claro que não é nossa culpa se suas tiras dos últimos 5 anos formam um corpo de trabalho diferenciado, espirituoso, aventureiro e corajoso, um exemplo a ser seguido por tantos outros quadrinistas que o têm como referência, e que gostariam também de aproveitar essa ocasião para prestar suas homenagens e lhe pedir desculpas por todas as piadas e personagens que copiaram de você.

Também não fomos nós quem decidimos que vossa senhoria ganharia destaque nacional ao questionar os limites sociais dos gêneros, demonstrando com maestria ímpar a importância que o trabalho de um quadrinista pode ter ao abordar temas prementes de nossa sociedade, renovando e redefinindo os limites que a própria atividade quadrinística pode ter.

O que dizer então de seus mais de 40 anos de carreira, constantemente se reinventando, explorando novos temas, rumos e caminhos, trazendo alegria, beleza e inteligência – valores raros em nossa sociedade – a inúmeros leitores de todas as idades e classes sociais, espalhados pelos quatro cantos de nossa fragorosa nação?

“Ora”, diríeis, “mas que título seria esse, afinal? O que faz um artista homenageado do FIQ? Deveria ficar sentado por horas a fio, bebendo água em uma garrafinha de plástico, autografando e desenhando de graça para uma horda de bárbaros sedentos por uma migalha de atenção e fama? Quantas fotos com fãs haveriam de ser tiradas? Quantas criancinhas precisariam ser beijadas para pôr fim a esse martírio a que os homenageados são submetidos pelo verdugo da glória?”

Tudo isso seria impensável, ou essa não seria uma homenagem honesta. Tudo o que o nosso Homenageado (ou Mulherageado, ou Pessoageado) quiser seria uma honra, quiçá uma ordem. Haveríamos de orquestrar uma palestra para milhares de fãs? Ou não? Quem sabe ainda uma entrevista feita por velhos companheiros de quadrinismo? Ou não. Será que a prefeitura nos deixaria erigir uma estátua de pedra com 40 metros de altura para ficar no topo da montanha mais alta de Belo Horizonte, vigiando a cidade tal qual esfinge do Nilo, inspirando o temor e a aflição a todos os inimigos da liberdade, da justiça e dos quadrinhos?

Nunca se sabe. Documentário? Exposição? Recital de piano? Vale tudo no amor, na guerra, e no FIQ.
Concluindo – o fato insofismável é que a homenagem precisa ser feita. A data se aproxima, inexorável, e temos que nos defrontar com esse destino fatal.

Contamos, pois, com sua condescendência humanitária em benefício destes singelos servos, joguetes do destino, amaldiçoados com a incômoda faina de realizar esta homenagem da maneira menos terrível para V.S.ª e os seus.

Humildemente,
Afonso Andrade & Daniel Werneck
curadores do FIQ 2013

Quer saber a resposta? Aí, ó:

De: Laerte Coutinho
Data: 12 de junho de 2012 16:09
Assunto: Re: Pedido de desculpas…
Para: FIQ
Eu topo…
Beijos
Laerte
(depois de tão inefável missiva, de tão convincentes desvarios, nada me resta senão relaxar e coçar. Fico muito desvanecida, como diria o Tancredo.)

O FIQ é bem mais do que o maior eventos de quadrinhos da américa. É o evento mais humano de Arte Sequencial que existe e as histórias que acontecem nos bastidores da vida de cada uma das pessoas presentes são sempre marcantes. E devem acontecer muitas histórias marcantes das crianças que leram Laerte durante a sua infância que cresceram, se tornaram quadrinhistas e irão encontrar com seu herói dos quadrinhos pela primeira vez. E eu sou uma destas crianças!

Nos vemos no FIQ 2013!

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